“Não há propriamente uma questão indígena. Há uma questão não-indígena.
Quer dizer, nós, não índios, é que somos o problema.” (Darcy Ribeiro, em
discurso que aparece no vídeo abaixo, em 1978)
Como os brasileiros muito bem sabem, Maracanã, ave da família dos psitacídeos
– ou seja, do grego ψιττακός, ou papagaio -, se refere a vários pássaros
típicos das florestas tropicais, semelhantes na etimologia e em formas às
Araras.
Periquitão-Maracanã (Aratinga leucophthalmus)[1]
O próprio sítio
do Estádio de Futebol Maracanã, assim
se refere ao nome como uma de suas curiosidades:
“Por que o
nome Maracanã? A palavra ‘maracanã’, em tupi, significa ‘maracá’
(chocalho) e ‘nã’ (semelhante). O termo designa um som emitido por um
pássaro da família Psittacidae, conhecido como ‘maracanã’, presente em várias
regiões do Brasil. À família pertencem espécies como o papagaio, a jandaia e a
arara. Antes da construção do estádio, havia no local uma grande quantidade das
aves.” [2]
A ave maracanã,
assim como a multiplicidade da fauna brasileira, é citada dentre as exaustivas
enumerações poéticas de Mário de Andrade no seu Macunaíma – O heroi sem nenhum caráter. Por outra parte, Hans
Staden, aventureiro alemão que depõe os considerados primeiros relatos sobre o
Brasil na década de 1550, em
Duas Viagens ao Brasil, diz acerca dos maracás[3]
– as entidades ou deuses, dos tupinambás, antropófagos dos quais ficou cativo –,
que eram chocalhos ornamentados, observados também em muitas outras etnias. Não
se pode aqui negligenciar o nome daquele registro cultural afro-brasileiro, o maracatu.
“O significado etimológico
do termo maracatu enseja algumas explicações. Aplicado a um
tipo de ‘dança dramática’ de origem africana, é Mário de Andrade quem confessa
não haver encontrado a palavra em qualquer documento anterior ao século XX.
Trata-se possivelmente de vocábulo formado por aculturação, o que se infere,
dessa forma, de interpretá-lo — o maracatu — ‘como voz africana, porque ele se
assimila facilmente a fonemas guaranis’. E explica ainda: ‘Maracá é um
instrumento ameríndio de percussão conhecidíssimo. Catu, em tupi,
quer dizer bom, bonito, aglutinando, em seguida, lembrando a formação maracá
— catu, do que resulta maracatu fundidas as duas sílabas cá’.” [4]
A aldeia
Maracanã não tem mais seu território original há décadas, assim como várias
etnias BRASILEIRAS cristianizadas, marginalizadas e assassinadas. Não é que
esses fatos sejam únicos na história humana, nem que guerra ou outras
catástrofes possam deixar de acontecer. Não se pode chegar a uma ingenuidade desse
nível! Mas, o que se deve reconhecer, é que o discurso largamente defendido
pelo neoliberalismo econômico – modelo que agora vige nas práticas
sócio-políticas do Brasil e largamente no mundo -, de que se deve defender a “liberdade”
dos indivíduos, noção primordialmente
econômica (como se cada ser humano fosse uma formiga operária), é diretamente contrário ao que se faz para
mantê-lo: ou seja, exclui-se aqueles que estão marginais a esse modelo,
marginaliza-se, quando não, autoriza-se tanto judicial como politicamente o
extermínio, como aconteceu a vários outros povos (ex. os Kaiowás). É
propriamente a contradição, no
sentido marxiano, a ser evidenciada.
De outro lado,
está aí o resultado da modernidade, do período industrial, etc., etc.: seres
extremamente individualistas - com, claro, computadores em frente ao rosto e redes sociais, a glória do “progresso” e
tal -, dispersos e incapazes de inter-relação pessoal sem auxílio de um pedaço
de papel - o dinheiro capitalizado.
Sítio da Aldeia Maracanã: http://aldeiamaracanarj.wix.com
[3] “Neste
entretempo, os homens se juntaram numa outra cabana. Lá beberam caium e
cantaram em honra aos seus ídolos, chamados maracás, que são matracas de cabaça
e que tão corretamente lhes anunciaram a minha captura.” (Staden, H. Duas Viagens ao Brasil: Primeiros registros
sobre o Brasil. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011.
Na conferência Menos que nada: Hegel e a sombra do
materialismo dialético, de
Slavoj Žižek, o qual veio à Universidade de Brasília, no dia 12 de março de
2013, o índio Ash Ashaninka (que aparece aos 14:54 min do vídeo acima) pede o
apoio e já prenuncia a retirada – desmedida e estúpida como foi – dos indígenas
da Aldeia.
Foto por Alan Tórma
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