A Coca-cola é
mais uma das aberrações do período industrial. Enquanto que a cerveja, ou as
bebidas alcoólicas em geral, pode estragar famílias – desde o início de seu uso
-, a Coca-cola, ou os estimulantes afins deste período, não só destrói
famílias, como está acabando com o próprio habitat
humano – sim, e dos outros animais, o planeta inteiro está nessa trama.
A
cerveja foi uma das primeiras bebidas alcoólicas, nascida na Mesopotâmia,
Suméria como se sabe, e tinha uma função ritualística – consagrada à deusa
Ninkasi – dentro do ciclo anual de festas sagradas. O descontrole era caso
isolado, pois, em primeiro lugar, havia outro tipo de relação que não a
obrigatoriedade do consumo.
Ao
contrário, a Coca-cola, um dos frutos amargos do período industrial, foi
assimilada pelo sistema capitalista como a sua “bebida sagrada”. Quando se bebe
e se consome esse produto, se é induzido ao estímulo e à sobriedade – ótimo
refresco para que se volte ao trabalho e se produza mais e mais com vigor... O
conhecido Tempos Modernos (1936) de Chaplin
retrata bem o que tenho em
mente. A cena em que Chaplin se entope de cocaína é essencial –
aliás outra droga do período industrial, que de início era consumida juntamente
com a Coca-cola pelos burgueses.
Cena da cocaína: http://www.youtube.com/watch?v=cZleShb14Nc
Por
outro lado, a cerveja – como qualquer outra coisa – foi dessacralizada e
assimilada pelo sistema produtivo. Amiga
da recreação e da embriaguez, seria a inimiga número um da lista do sistema
produtivo, onde e no qual se exige o trabalho em excesso. Mas , como o
cinema e o parque de diversões – ou os shopping
centers (centros de comprar) – do
domingo, que Adorno caracteriza como continuação do trabalho, a cerveja foi
apropriada como um “refresco” ou “dormitivo” legalizado para que o trabalhador
se entorpeça à noite e volte ao trabalho no dia seguinte.
Aqui
no “país do futebol” – aliás, outra coisa apropriada – o trabalhador, que às
vezes domingo de manhã joga bola com os amigos, chega em casa ou sai do
trabalho, assiste a um jogo tomando uma latinha de cerveja, sonhando com os
jogadores que se divertem com uma bola de borracha – ou o que for – e ganham
milhões por ano. O sonho, a ilusão do(a) trabalhador(a) de “ficar rico”, é
alimentada na embriaguez do álcool, mulheres rebolantes e esportistas
milionários. Estes, a versão contemporânea e neoliberalista dos gladiadores
escravos, até inauguram ONG’s para
“ajudar” meninos carentes a chutar bola e para fazer referência a seu passado
de pobreza. Agora, patrocinam o ciclo de miséria e mais perversões (no sentido
clínico mesmo, como Zizek nos apresenta. Ex.: café descafeinado, cerveja sem
álcool, etc.) que o sistema produtivo induz e produz para que se continue a
“ter prazer”, e que de qualquer modo se consuma.
Há obrigação até mesmo, ou principalmente, de se ter prazer...
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